quarta-feira, 21 de abril de 2010

Homesickness

Todos nós temos um pedacinho da terra que nos viu nascer… todos nós temos aquilo que os ingleses chamam “homesickness” (saudade de casa)… eu cá prefiro o termo em portugues, saudade, essa palavra tão cheia de nada e tão repleta de tudo… sentir falta não se sabe de quê, fechar os olhos e ver rostos e sítios, sentir nas narinas cheiros, tocar no vazio formas variadas. Porque hoje acordei com o coração apertado por não ver a paisagem que tenho no meu quarto de criança na casa dos meus pais… quero o cheiro a torradas e a café com leite, a voz da minha mãe e o burburim tranquilo do meu jardim!

Esquecemos por vezes a sorte que temos em ter um sitio a que chamamos de casa, a minha casa é maior que eu, é maior que todas as cidades grandes, é melhor que todas as luzes, a minha casa é minha e as pessoas que nela habitam são mais minhas que eu própria!

Acordar e sentir nos pés descalços a terra molhada de orvalho de primavera, ver por entre a porta entreaberta, flores plantadas à mão e ver a minha sobrinha a brincar com caracóis… rever-me, ver-me num espelho mágico e pedir a um qualquer Deus que me dê mais um dia de infância, mais um dia em que pudesse brincar com caracóis e sentar me no colo do meu pai sem a culpa da vergonha de ser crescida… chorar no regaço da minha mãe porque o “grande amor da minha vida” me trocou por uma ranhosa que tinha as mamas maiores do que eu…

Tenho saudades, de andar a pé (porque não podia conduzir), tenho saudades das bolachas com manteiga comidas de uma só vez debaixo da arvore do jardim...

Peço desculpa pelo discurso desorganizado e completamente desprovido de sentido estético-literário, mas é assim mesmo, a melancolia e a saudade não são estéticas, não servem para escrevermos bem… na verdade só servem para que possamos pensar um pouco mais no mundo em que agora vivemos, na infancia perdida, nos sonhos roubados, no tédio de ser adulta, nas responsabilidades que tao irresponsavelmente achamos que temos que cumprir, deixando de lado o que realmente importa… prometo não mais me esquecer da sorte que tenho de ser de arouca, não mais terei vergonha do sotaque “serrano”, porque foi na serra que me fiz mulher, foi nessa mesma serra que me vi crescer, aprender e, ainda que eventualmente, me torne uma profissional de renome, ganhe pilhas de dinheiro e tenha o nariz mais levantado que a torre dos clérigos…prometo que esse nariz baixa assim que pisar aquela terra… porque é a minha terra, é a minha gente… com a dignidade e a humildade que todos nós deveríamos ter…

Deixo para ouvirem uma musica chamada hometown glory de uma artista britânica chamada Adele, que a escreveu, pelo que sei, em homenagem a Londres, a sua cidade natal.





Um comentário:

  1. saudade...uma palavra tipicamente nossa! sim sem duvida não poderia estar mais de acordo contigo. Por vezes falamos, criticamos a nossa santa terrinha mas, quando passamos uma semanita fora desejamos voltar o mais rápido possível! de um certo modo sentimo-nos seguros, aconchegados assim que pisamos a nossa terra, a nossa casa, voltar a ver as ruas do costume, as casas do costume, as caras de costume,voltar ao bar que sempre vamos, com o empregado de costume, que normalmente não damos a devida importância ou simplesmente passam despercebidos pois estão lá...quer se passe uma semana ou um mês.

    Mais uma vez parabéns pelo gosto musical.

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